Arq. Maria Inês M. R. Cabral (MIARQ/ULHT)

Arquitectura sustentável: a dimensão global do projecto
sinopse

No exercício da actividade e como coordenadores de projecto, os Arquitectos deparam-se por vezes, com temas que não dominam ou que desconhecem mesmo. Isto deve-se em parte ao facto de a coordenação de um projecto envolver questões tão díspares como entender as soluções estruturais, compreender as características de um material, satisfazer o programa do cliente, controlar custos e prever o impacte do espaço nos ocupantes e no local. Apesar da sua preparação académica contemplar esta pluridisciplinaridade, há muito conhecimento que vai sendo criado e que obriga o arquitecto a uma constante actualização: questões sociais e económicas que mudam, internacionalização dos projectos, novas prioridades mundiais. A questão ambiental surge em 1972 com a crise energética, mais tarde em 1989 surge a questão do desenvolvimento sustentável, e em 1997 surge a questão das alterações climáticas. Estas questões tornaram-se prementes e a sociedade no seu todo é chamada para prevenir aquilo que se denuncia como um desenvolvimento insustentável a nível global.
Os arquitectos com a sua quota-parte de responsabilidade numa indústria altamente poluente como é a da construção são também eles alertados e informados da necessidade do seu papel proactivo.
A investigação e construção sustentável são temas de investigação recente em Portugal sendo que os primeiros passos foram dados há 20 anos com alguns estudos sobre arquitectura bioclimática sendo que hoje o tema de construção sustentável tornou-se campo de formação e investigação de engenheiros de ambiente, engenheiros mecânicos e muitos outros.
 O desafio que se coloca actualmente ao Arquitecto é investigar e repensar o seu projecto segundo parâmetros de sustentabilidade local com consequências globais.
A arquitectura sustentável abrange conceitos ambientais, sociais e económicos, gerando uma particular necessidade de criar uma network de conhecimento para auxiliar as tomadas de decisão do arquitecto.
Essa constatação é uma das conclusões de um projecto que foi parte de uma investigação em Arquitectura Sustentável. O projecto consistia na recuperação de uma casa vernácula numa aldeia da região do Minho, mais precisamente inserida no único parque nacional em Portugal - O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). A hipótese colocada era se a recuperação numa área protegida deveria ser mais sensível ao ambiente natural envolvente e em que medida se articulava com os constrangimentos específicos de um projecto de recuperação. Assim o projecto foi definido com o objectivo de responder aos requisitos do sistema de certificação LiderA. O projecto foi elaborado e sujeito a duas entidades: o PNPG e a Câmara Municipal de Melgaço (CMM).
 As soluções de tecnologias solares passivas que implicavam alterações de cércea não tiveram aprovação camarária dado que implicavam alterações significativas da fachada do conjunto arquitectónico. O projecto foi por isso alterado. Na fase de construção o projecto foi sofrendo outras alterações significativas porque a fase de demolição parcial do edifício existente permitiu constatar o grau de reutilização de materiais, que foi muito elevado. A fase de construção requereu alguns ajustes no projecto por se terem constatado tardiamente graus elevados de radão no edifício. A escolha dos materiais ecológicos teve em conta a distância dos fornecedores apesar de algumas concessões terem sido feitas para sensibilizar o mercado para materiais mais sustentáveis. A aplicação de alguns materiais inovadores exigiu ainda o acompanhamento junto do empreiteiro e a educação dos operários. Por fim o edifício foi monitorizado na sua ocupação em termos de qualidade do ar, conforto térmico, consumo de biomassa e consumo de água. Apesar de obtida a certificação LiderA classe A+, constatou-se a não aplicabilidade de certos requisitos do sistema a certos aspectos da construção e prioridades do local, e como tal foi elaborado um sistema mais adequado.
Este sistema chamado de CAAAP estaria mais adaptado à certificação ambiental da arquitectura vernácula em áreas protegidas.
O processo de investigação permitiu ainda levantar em paralelo outras questões, desde o custo da construção sustentável até à necessidade de ferramentas e bases de dados que permitam uma maior eficácia na elaboração de projectos sustentáveis, passando pela questão do incentivo à reabilitação e preservação da arquitectura vernácula e não esquecendo o incentivo à indústria nacional para produzir materiais sustentáveis.
Palavras-chave:
Interdisciplinaridade, reabilitação, arquitectura sustentável, custo, ferramentas, arquitectura vernácula

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